Raízes do Frevo
O frevo nasceu nas ruas do Recife e Olinda, em Pernambuco, como uma expressão cultural única que mistura música, dança e energia popular. Sua origem remonta ao final do século XIX, quando as cidades pernambucanas passaram por intensas transformações sociais e urbanas. Durante este período, os bairros mais populares eram pontos de intensa convivência cultural, onde se encontravam influências africanas, europeias e indígenas. As marchas militares das bandas de música, ou fanfarras, que desfilavam pelas ruas, tocando músicas rápidas e festivas, foram a base para o surgimento do ritmo. A palavra “frevo” deriva do verbo “ferver”, simbolizando a energia, a velocidade e o movimento vibrante que caracterizam o estilo.
Influência da Capoeira
Os primeiros praticantes da dança do frevo eram, em grande parte, capoeiristas. Os movimentos acrobáticos da capoeira, como giros, esquivas, saltos e gingas, foram incorporados à dança, criando uma performance que combina ritmo e habilidade corporal. O frevo tornou-se, assim, uma dança que exige extrema coordenação, força e resistência, mantendo o dinamismo e a estética da capoeira, mas adaptando-a ao ritmo acelerado da música. Essa fusão foi essencial para diferenciar o frevo de outras manifestações carnavalescas.
Primeiros Carnavais e Popularização
O frevo ganhou popularidade durante os carnavais do início do século XX, especialmente nas ruas de Recife e Olinda. As pessoas, em sua maioria moradores dos bairros populares, utilizavam guarda-chuvas coloridos como extensão dos movimentos de dança, criando um espetáculo visual único. Esses guarda-chuvas não tinham função prática contra a chuva; eram instrumentos simbólicos que acompanhavam os passos e giros dos dançarinos. A música acelerada, combinada com a dança acrobática, produzia um efeito hipnotizante que conquistou multidões. Com o tempo, surgiram as primeiras orquestras de frevo, competições e blocos carnavalescos, solidificando o frevo como uma tradição popular consolidada.
Instrumentação e Ritmo
Musicalmente, o frevo é caracterizado pelo ritmo acelerado, geralmente entre 160 e 180 batidas por minuto, que exige grande habilidade dos músicos. Os instrumentos principais incluem trompetes, trombones, saxofones, taróis e surdos, formando uma sonoridade vibrante e inconfundível. Apesar da aparente simplicidade harmônica, a complexidade surge na velocidade da execução, na alternância entre melodias e improvisações, e nas diferentes variações do ritmo. O frevo se divide em estilos distintos: frevo de rua, frevo de bloco e frevo de trio, cada um com características próprias, mas mantendo a essência acelerada e dançante.
Consolidação Cultural
Ao longo do século XX, o frevo passou a ser reconhecido como patrimônio cultural de Pernambuco. Festivais, escolas de música e apresentações públicas contribuíram para a valorização do gênero. Compositores como Maestro Duda e Capiba desempenharam papel fundamental na criação de marchas e frevos clássicos que até hoje são executados nas festividades. A tradição também se espalhou para outras regiões, influenciando artistas de diversas partes do Brasil e integrando-se em novos estilos musicais, mantendo viva a essência do ritmo.
Legado e Preservação
O frevo é mais do que música e dança: é símbolo de identidade cultural. Escolas e projetos sociais ensinam crianças e jovens a tocar, dançar e celebrar o frevo, preservando a tradição para as novas gerações. A UNESCO reconheceu o frevo como Patrimônio Imaterial da Humanidade, fortalecendo sua importância cultural. Hoje, o ritmo continua a ferver nas ruas durante o carnaval e nos palcos internacionais, demonstrando sua vitalidade e capacidade de adaptação. A combinação de história, música, dança e cores faz do frevo uma manifestação única, que representa a criatividade, a alegria e a resistência do povo pernambucano.
